Perca tempo – a importância de relaxar

Você já deve ter presenciado, ou até vivenciado, essa situação: depois de passar meses esperando as férias, quando elas finalmente chegam a pessoa sente-se tão entediada que deseja voltar rapidamente para a rotina de estudo ou trabalho. Até durante os finais de semana ou feriados, muitos estabelecem listas de atividades e programações, para não perder tempo e conseguir aproveitar cada momento. São tantas atividades que o momento de descanso torna-se cansativo. Tudo isso para evitar o ócio, que em nossa sociedade adquiriu um sentido negativo. Porém, ter momentos sem a pressão do relógio, só para relaxar, pode ser um grande diferencial.

A relação da sociedade com o ócio foi alterada no decorrer da história. Na Grécia, os trabalhos braçais eram destinados aos escravos e, portanto, uma atividade inferior. Os filósofos e intelectuais da época pregavam a “vida contemplativa”, necessária para reflexão pessoal e para o bem estar social. Na Idade Média, sob o domínio do pensamento Cristão, o ócio foi associado à preguiça, um dos pecados capitais. Nesse contexto, as pessoas não deveriam perder tempo com reflexões, mas trabalhar e se ocupar para evitar os vícios. Com o crescimento do poder da burguesia e a posterior Revolução Industrial, o trabalho é valorizado como comportamento dominante, enquanto o ócio passa a ser um motivo de exclusão social.

Atualmente, carregamos essa visão negativa do ócio, especialmente com a exigência de estar sempre conectado e atualizado com as novas tecnologias, notícias e debates. Consequentemente, quando há momentos de lazer e relaxamento, as pessoas se sentem inúteis e buscam atividades que possam suprir esse sentimento. Essa situação foi comprovada por uma recente pesquisa de uma universidade americana que indica que os jovens com mais tempo livre se declaravam mais infelizes, por não conseguirem aproveitar esse tempo com plenitude.

Com essa pressão de estar sempre em atividade, muitas vezes, sobra pouco tempo para reflexão e pensamento livre. Nesse sentido, ter momentos de ociosidade, sem nenhuma preocupação ou planejamentos pode ser fundamental para conseguir solucionar algum problema ou ter ideias mais criativas. De acordo com o filósofo Albert Camus, são os ocioso quem transformam o mundo, já que os outros não têm tempo. Aproveitar o tempo livre com o lazer trará benefícios para questões pessoais, profissionais e até familiares.

Milan Kundera, em seu livro “A Lentidão”, defende que a sociedade atual perdeu o hábito de curtir os prazeres sem pressa, especialmente os artistas que precisam de tempo para criar. Algumas empresas, inclusive, investem na ideia do sociólogo Domenico de Masi, que defendia o ócio criativo como modelo empresarial, investindo em horários flexíveis e com a redução das pressões externas, que permitem que os funcionários aproveitem o tempo para criação de soluções criativas e ousadas. Para Domenico, o trabalho, estudo e lazer devem estar sempre interligados, para que a pessoa sinta-se feliz durante grande parte do dia e, consequentemente, trabalhe melhor e com mais empenho. Perder um tempinho com você mesmo pode ser muito recompensador!

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